Dizem que quando se ouve a Rasga Mortalha por cima das casas, alguém morre. Se isso for verdade, o Pará tem um quintilhão de corujas mudas.
Aquela era a época do Ouro. Começou quando um rapaz desdentado correu até a igreja e interrompeu a missa com um único grito:
“É ouro, porra!!”
Daí pra frente, milhares de gentes que não saberiam onde cair mortas se dirigiram até a Serra para cavar que nem formigas, todas atrás do maldito ouro. Em pouco tempo era tanta, mas tanta gente que o governo militar mandou um Curió carniceiro com um exército de marmanjo pra botar ordem na bagunça. O major recebeu a ordem quando estava no trono. Entrou um soldadinho mirrado arrebentando as portas e gritando.
“Major! Major!”
“Um homem não pode nem cagar em paz, caralho?”
O soldado ouviu um murro na parede sem reboco.
“É do Presidente, senhor! E, é urgente!”
O major então, abriu a porta de madeira, que já estava quase caída, e estendeu a mão em busca da correspondência.
“Me dê aqui. E se falar pra alguém que me viu assim, vai servir lá na puta que pariu.”
Independente da vontade do major e do azar do soldado, acabaram todos indo ao lugar mencionado. A ocupação demorou algumas semanas para se estabilizar. Vila Trinta, do lado da Serra, era onde acabavam todos os bêbados, criminosos, putas e desvalidos. Toda noite uma bala achava o bucho de um corno. E, no dia seguinte, quem estava vivo voltava para a Serra, para se acabar em pequenos nadas, procurando ouro e vendendo à preço de banana para a Caixa.
Certa vez um homem reclamou:
“Mas eu passei mais de quatro dias pra achar esse tanto aqui! Não pode valer só isso!”
Ele se acalmou rapidinho, com o tiro que levou na boca, vindo do cano do fuzil de um soldado entediado.
“Odeio quem atrapalha fila” disse o atirador.
“A gente veio pra cá matar comunista, mas só tem esse bando de zé buceta.”, resmungou o colega de armas.
O problema é que o capitão que ouviu tinha matado vários na Guerrilha do Araguaia e sabia da cagada que era. De raiva ordenou uma semana de trabalho de formiga para o subordinado.
“Se tu quer achar um comunista então cava esse buraco aí. Eles ficam enfiados em lugares mais fundos que o teu cu, arrombado.” riu lá de cima, olhando aquele bosta suar feito porco enquanto o sangue subia da carne viva que eram as mãos do azarado. Quem entrava ali era amaldiçoado e um desses pobres coitados era Jorge.
Jorge trabalhava como apurador, passava os dias e as noites que conseguia ficar acordado lavando a terra no rio. Nunca encontrara nada da riqueza que os safados prometeram quando saiam pelos quatro cantos anunciando Serra Pelada. Nos seis meses que veio parar naquele fim de mundo, mal conseguia sustentar a mulher e os filhos.
O negro de trinta e poucos anos não pregava os olhos a dois dias. O choro de fome das crianças em casa não deixava. Ele e mais tantos, uns vinte, esfregavam as bateias com força, esmigalhando todas as pedras até virarem lama, mas o único brilho era o da lua cheia. Jorge olhou para cima e começou a rezar.
“Ô Jesus, me ajuda. Me dá um sinal!” suplicou o homem, olhando para o céu.
De repente ouviu o grito terrível: era a rasga mortalha sobrevoando lá em cima. Não só Jorge, como todos os trabalhadores fizeram o sinal da cruz repetidas vezes.
“Bora pegar o beco Zé, que hoje tá agourado!” ouviu um dos homens falando.
O restante sentiu-se ameaçado, resolveram seguir o conselho. Jorge apertou o terço, que levava sempre no pescoço, e decidiu ficar. Não podia voltar para casa com as mãos vazias.
Sozinho, continuou fazendo o trabalho enquanto os homens subiam as escadas que os levaria do nível da água até em cima. Depois de uma hora dali, a lua cheia ficou completamente visível e a nuvem que a cobria foi embora entediada. O brilho refletiu na água e minúsculos pontos de luz começaram a cintilar. Os olhos de Jorge se acenderam e ele largou a bateia de lado, pulando na água de peito e tudo. Suas mãos cavaram o fundo do lago e da superfície, foram se deslocando pedras e mais pedras com ouro fincado.
“Ai meu Deus, ai meu Deus!”
Quando levava para a beira da água, voltava e desenterrava mais. Depois de alguns minutos, as lágrimas quentes desciam pelo rosto do trabalhador, que abraçou aquele monte de pepitas e as jogou dentro da sua trouxa. Buscou todas as suas ferramentas e subiu as escadarias correndo feito louco. Rico! Estava rico!
Com um sorriso no rosto marcado, todo sujo de lama e encharcado, Jorge erguia as mãos esfoladas para o céu. Iria continuar assim pelas duas horas de caminhada para chegar em Vila Trinta, se não fosse o infortúnio que acomete todos os pobres.
No meio do caminho, a lua cheia foi novamente coberta por nuvens e no breu total, o homem começou ouviu passos de outra pessoa. Jorge sentiu um calafrio e aumentou o ritmo. Foi puxando a faca da cintura, com o coração retumbando no peito e os músculos cada vez mais tensos, preparando para defender seu ouro sagrado.
Eu vou me virar de uma vez e me jogar em cima do safado, Deus vai me ajudar, Deus vai garantir essa vitória! Porém, quando Jorge deu a volta para encarar o assaltante, uma luz forte o cegou. A mão com a faca levantada automaticamente para cobrir os olhos.
“Há! Tá pra nascer o homem que vai me matar de faca!”
Era um militar armado. Jorge já o vira fazendo patrulha pela serra, sempre bebendo cachaça e espancando alguma mulher no puteiro. Porém, hoje ele estava sem uniforme. Siqueira o nome dele. Sargento Siqueira.
“Seu sargento, por favor…”
O barulho do tiro ecoou pela paisagem. Siqueira se aproximou do corpo esparramado no chão feito uma ruma de merda e riu. Jorge estava com as mãos cruzadas sobre o buraco do peito, de onde o sangue quente pulsava, como se estivessem a rezar para a Virgem Maria.
“Reza mesmo, porque aqui é o inferno, cidadão.” Mas a oração do moribundo era muito menos nobre. Jorge tremia e seus lábios cheios de sangue proferiram palavrões mudos. Aquele olhar de ódio puro incomodou Siqueira, que apontou para a testa do trabalhador e disparou uma última vez. “Que o diabo te carregue.”
O brilho da lua iluminou as pedrinhas caídas dentro da trouxa feita de roupa na qual Jorge levava as pepitas de ouro. Siqueira se aproximou e puxou a trouxa do chão, derrubando uma das pedras, a maior, que quicou até o cadáver e se embebeu no sangue do falecido. Siqueira pegou a pepita e a esfregou na camisa puída de Jorge, dando uma última olhada naquele rosto horroroso antes de ir embora para a cidade.
O assassinato era comum na vila e o que mais crescia, além da população de garimpeiros, era a população de viúvas e orfãos. No bar, no prostíbulo, no meio da rua, eram comuns pelejas serem resolvidas na bala, já que na serra nada disso era permitido. Nem bebida os peões podiam tomar, para não atrapalhar a produção e manter os ânimos calmos. Por isso a coitada da vila aguentava todos os trancos e barrancos.
Siqueira em pouco tempo se tornou temido. Chamavam-no de “Coroné”, a despeito da autoridade militar do Major Curió. Isso não saia do chiqueiro, alcunha dos militares para a Vila Trinta. O Coroné contratou um grupo de dez pistoleiros e gerenciava o mercado subterrâneo de contrabando de ouro por debaixo dos narizes dos milicos. Era tudo muito escondido, com exceção do povão, que sabia de tudo. Ninguém podia roubar, só Siqueira e seu bando. E o povo vivia na miséria.
Socorro, viúva de Jorge, teve que entrar na vida para sustentar os dois filhos. Como recusou fazer certas coisas que Deus não gostava, logo com um pistoleiro de Siqueira, morreu na ponta da faca, ali mesmo, na cama. Os miúdos começaram a roubar e o mais velho morreu numa briga de bar. Só restou mesmo Joãozinho, de oito anos, que virou menino de rua.
Todo mundo conhecia a história do Joãozinho, porque todos conheciam Jorge e Socorro da igreja. Era o mais fodido da comunidade e nem o padre conseguiu levá-lo de volta. A última frase que ouviu do garoto o convenceu de que era uma alma perdida.
“Eu quero ser é matador. O mundo é do diabo, seu padre.”
Aos quatorze anos, Carniça, como passou a ser conhecido o pequeno João, viu algo que mudaria para sempre sua vida desgraçada.
Era uma noite de lua cheia, como a noite em que mataram seu paizinho. Carniça se esgueirava em um beco atrás do puteiro mais vagabundo da cidade, tentando ver pelas frestas de uma janela, as safadezas que rolavam ali. Os olhos do moleque se arregalaram tanto que faltaram entrar na madeira, quando a moça bonita lá dentro apareceu, com a bunda virada para cá. O homem que atrapalhou a visão era ninguém menos que Siqueira, o Coroné assassino. João sentiu o ódio subindo pelo peito, observando o chefe do filho da puta que havia matado sua mãe. Seu objetivo inicial de brechar o puteiro se esvaiu, mas os olhos continuaram vidrados.
Para a surpresa de Carniça, Siqueira se agachou na cama feito um cachorro e a mulher apareceu com uma palmatória. A visão da prostituta dando várias pauladas no rabo do poderoso Siqueira e aquele cu cabeludo do contrabandista vibrando de prazer a cada porrada quase fez o moleque cair na gargalhada.
João não resistiu. Cuidadosamente se agachou e tateou o chão à procura de uma pedra. Sem fazer barulho empurrou a janela, se posicionou de forma a ter o melhor ângulo possível, estendeu o braço para cima e quando a puta saiu do caminho, tacou a pedra no furico do coronel.
O grito de desespero do criminoso assustou a mulher de tal forma que derrubou-a no chão. Siqueira pulou da cama e olhou para a janela a ponto de ver a cabeça do moleque sair zimbado correndo.
“Filho de uma puta! Eu te pego!”
Siqueira vestiu a calça numa velocidade extraordinária e pegou sua arma na mesinha do quarto, saltou com destreza pela janela e caiu no beco do lado de fora, levantando poeira pra todo lado. Sua careca estava vermelha de raiva, as veias do pescoço faltavam saltar. Parecia um animal salivando pela boca. Seus olhos assassinos miraram o moleque, dobrando já na próxima esquina e o homem disparou correndo atrás.
Carniça era sebo nas canelas, corria feito leopardo e desviava de obstáculos feito canguru. Não que ele soubesse o que eram esses bichos, mas fazia mesmo assim. A liberdade da noite era a liberdade de João: roubava, atazanava militares e nunca era pego. Nunca, nenhuma vez. Mas disputar com a velocidade de uma bala já era demais.
A pancada pegou a asa de sua costa e desequilibrou o garoto, que caiu bolando no chão. O tiro não foi muito efetivo, mas parecia ferro quente. João estava com a cara no chão, sua boca latejava e as pequenas pedrinhas perfuraram os beiços. O sangue pingava da boca e da roupa do rapaz. Antes que ele conseguisse levantar, sua têmpora direita foi atingida por uma bicuda. A queda serviu para Siqueira cobrir o caminho que faltava até chegar no menino.
O coroné virou João de cara para cima e quando viu a lata do moleque, abriu o sorriso cheio de ouro.
“Ah, seu merdinha, tu é a cara do teu pai. Sabia que já tinha matado um corno feio que nem tu.”
O grito apavorante da rasga mortalha cortou o céu, e João tremeu todo ao ouvir aquilo. Mas não se abateu e começou a gritar:
“Pode me matar, seu caralho, mas todo mundo vai saber que te meti uma pedra no cu!”
“É brabo. Assim que é bom.”
Antes que Siqueira pudesse apontar a arma para a cabeça de Joãozinho, um vulto acertou o peito do criminoso e o arremessou longe. João se virou e começou a engatinhar para o outro lado o mais rápido possível, se encostando na parede de madeira de uma casa. Ao virar o rosto para ver o que havia acontecido ficou pálido.
A luz da lua cheia inundava a rua. O coronel tentava se pôr de pé e entre ele e os olhos de João, uma figura feminina se punha no caminho. As roupas dela pareciam ter um brilho prateado, mas eram negras como as nuvens carregadas da madrugada. Os panos rasgados que cobriam a silhueta tinham penas nas pontas, e os cabelos muito pretos e lisos davam a impressão que aquela mulher de costas podia ser uma índia. Mas ela usava sandálias, notou João.
A mulher misteriosa virou a cabeça para trás feito uma coruja e seus olhos imensos e amarelos fitaram o garoto. Ele se urinou todo, e ela sorriu. A cabeça se retorceu para o lugar correto e a mulher começou a andar na direção de Siqueira. Ele, por sua vez, apontou o revólver para a figura e esbravejou.
“Pode parar aí, que eu não tenho medo de matar puta!”
Como ela não obedeceu, Siqueira disparou. A bala atravessou o manto escuro da aparição e João escutou a gargalhada fantasmagórica vindo dela. Todos os seus cabelos ficaram em pé e brancos na hora. A última coisa que viu antes de desfalecer foi ela sacar aquelas garras de coruja em forma de mãos humanas e voar em direção a Siqueira. Muito longe, o grito desesperado do homem foi ouvido por toda a Vila.
João acordou com um tapa do padre, cujo nome era Patrício. Estava numa maca, no único ambulatório que a cidade tinha e sentiu a queimação na costa e a dor intensa na boca.
“Já te costuraram, mas tu perdeu uns dentes. Se salvou por pouco moleque. O que aconteceu?” perguntou preocupado.
Carniça levantou devagarinho, com medo de rasgar algum ponto. Sua pele negra ainda estava suja de terra e o cheiro de urina e bosta subia da calça.
“Tem banheiro aqui? Tenho que banhar.”
O padre chamou um auxiliar para ajudar João. Depois do banho e de se arrumar, João percebeu que tinha envelhecido uns quarenta anos na cabeça. Seus cabelos crespos agora estavam grisalhos. Foi ter com o padre.
“Filho, o que houve ontem?”, perguntou a João, ainda calado. Antes que ele pudesse abrir a boca, alguém veio gritando na rua, chamando todos para ver algo extraordinário. Os dois, mas não apenas eles, correram e o que viram chocou a todos, menos João.
O cadáver de Siqueira havia sido encontrado em uma das ruelas próximas e vinha sendo trazido por cinco homens, todos os pistoleiros, numa maca improvisada. Uma multidão de curiosos veio atrás e depois saiu de perto abismados. Quando foram passando pela entrada do centro de saúde o padre Patrício e João viram a cabeça virada ao contrário do corpo, que estava posicionado de lado, todo rasgado como que por ganchos, um pouco das tripas vazadas pingava pelo chão.
João notou uma pena preta caindo da maca e quando a multidão se desconcentrou, foi lá e a pegou. O garoto ficou olhando para a pena e disse:
“Padre, será que é tarde pra eu voltar pra igreja?”
Depois de voltar para a casa de Deus, João foi morar com Patrício e passou a ajudar na missa. Largou a vida de rua e terminou os estudos. A lenda da Rasga Mortalha foi se espalhando à medida que mais pistoleiros e homens de coração mau foram aparecendo mortos, sempre uma manhã seguinte ao grito da coruja ser ouvido.
“É a Matinta Pereira vindo cobrar.” diziam alguns, outros apenas se enfiavam na igreja, com medo.
Isso foi muito bom para o padre e para João, pois as ofertas eram cada vez mais gordas e cada vez mais carne tinha no prato dos dois. João, apesar de morrer de medo da Rasga Mortalha, sabia que ela havia vingado sua família, justiçado aquelas pobres almas. E por isso, sempre que ouvia um assovio a noite, deixava um copo de cachaça e um cigarro do lado de fora da casa, como pagamento. Com o passar dos anos, a idade de João foi combinando com os cabelos grisalhos, a cidade cresceu, mudou de nome e o padre Patrício morreu.
Um novo padre chegou, um que não conhecia nada da história da cidade e repudiava aqueles
atos noturnos de João, agora o velho caseiro da igreja, eterno beato.
Certa noite, a despeito da promessa de cachaça e cigarro, o novo padre jogou fora as oferendas sem João saber. Ele só descobriu quando de manhã cedo bateram em sua porta. Ao abrir, o velho João se deparou com uma moça bonita, de pele morena e cabelos lisos. Os olhos cor de mel hipnotizantes e o sorriso de rapina assustaram João.
“Bom dia, senhor. Vim buscar o que me prometeu.”
João estava paralisado feito pedra, mas arredou o pé e pediu para a moça entrar. Foram os dois até a cozinha, a mulher sentou na cadeira de pau sem pedir. João respirou fundo e a serviu um copo de cachaça. Buscou um cigarro e entregou a ela, que prontamente o acendeu com um isqueiro que estava à mesa e tratou de fumar.
“Diga?” indagou a moça.
João ainda tremia, tentava manter o ar no pulmão e depois de muito esforço, formou as seguintes palavras:
“Queria saber o seu nome, pra se um dia Deus me der uma filha.”
A mulher riu estrondosamente, deu mais uma tragada no cigarro, fechando os olhinhos puxados no processo e soltou uma baforada de fumaça generosa.
“É Suindara.” disse e virou o copo de pinga.
Conheça o autor
Elves Cunha é agente comunitário de saúde por necessidade e mecânico por paixão. Escreveu alguns contos e jogos de RPG gratuitos que se perderam pela internet e nas horas vagas persegue essa dor de cabeça que é tirar as histórias da imaginação e pô-las no papel.
Como foi o seu primeiro contato com a literatura?
Meu primeiro contato com a literatura foi através de um manual de RPG. Vampiro a Máscara 2a Edição. Foi lendo os contos de dentro do livro que entendi que era divertido ler. Eu tinha 10 anos (não façam isso com as crianças de vocês).
Quais gêneros você escreve, Elves? Pode contar um pouco das histórias e projetos que você já produziu?
Até pouco tempo eu escrevia exclusivamente terror e horror, como o conto "A Rasga Mortalha". Mas ultimamente tenho me aventurado em outros gêneros, como comédia e realismo mágico. Um dos meus contos que fez bastante sucesso foi "O Culto do Chupa-cu" que saiu no número 12 da revista Pulpa. Outros que gosto bastante é o "Alvorada", que se passa no universo do meu RPG espacial e o "Pegadas", que mostra o fim de uma cidadezinha do ponto de vista de um velho sapateiro. Atualmente estou escrevendo uma série sobre pessoas que trabalham para vampiros, limpando cenas de crime e rastros sobrenaturais, o "Serviço Essencial". Meus contos e RPG`s podem ser encontrados no site da Potocando.
O que te atraiu a escrever esses gêneros?
Escrever terror é culpa do Vampiro A Mascara. Realismo mágico foi a leitura recente que fiz do Gabo e do Érico Veríssimo. Além de amar Jorge Amado. Algumas histórias dele parecem um pouco com isso. Eu tento equilibrar ficção fantástica com a experiência de ser um trabalhador explorado que tenta sobreviver no capitalismo, sob vários aspectos. Às vezes isso aparece como terror, às vezes como esperança, mas sempre com um conteúdo de resistência.
Quem te influencia?
Eu acho que sou muito influenciável. Mas se eu puder escolher um escritor para dizer que quero escrever tão bem quanto sem dúvida é o Jorge Amado. Principalmente a época em que ele era mais engajado politicamente. (até a trilogia Subterrâneos da Liberdade).
Por muito tempo eu quis escrever histórias trágicas, mas hoje em dia quero escrever sobre esperança e luta. Ainda não consegui achar o caminho, mas estou buscando. A literatura comunista do século XX aliada à fantasia mainstream hoje são minhas grandes influências.
Você citou o coletivo Potocando, conta um pouquinho sobre esse projeto?
O coletivo Potocando nasceu da nossa vontade de produzir conteúdo de RPG, mas se tornou um veículo prioritariamente de literatura. Ele começou como uma newsletter quinzenal e hoje temos um site com conteúdo semanal. Estamos em uma fase de consolidação do nosso conteúdo, mas temos ideias para criar uma revista literária de verdade, com submissões abertas e pagamento dos autores participantes, para o ano de 2022. Fique atento às nossas redes sociais! O site, o Twitter e o Instagram
Você considera que o RPG influencia na sua escrita ainda hoje?
Com certeza. O que mais escrevo na verdade são pequenos jogos de RPG, junto com amigos. O componente colaborativo e de criação coletiva me é muito mais atraente do que a escrita "introspectiva". Estou escrevendo com mais frequência agora que participo de grupos de literatura, através de exercícios e debates dos textos.
Você já chegou a escrever um jogo completo?
Alguns, mais recentemente empolguei no Apocalypse World e fiz 2 jogos "empoderados pelo apocalipse". Um é o Cães do Espaço, que é sobre trabalhadores de marte fazendo a revolução pilotando robôs gigantes e outro, uma homenagem aos filmes de Slasher chamado Massacre dos Condenados. Esse ultimo fiz junto com minha esposa. Ambos estão saindo no site do Coletivo Potocando, que é um projeto de literatura e RPG que fundamos com outros amigos.
Elves, me conta um pouquinho de como funciona o seu processo de escrita?
No geral eu escrevo contos. Como são histórias curtas, eu tenho uma ideias geral do que quero e começo sem planejar tanto. Quando termino, vejo se gostei do resultado ou não, e começo a editar.
Quando percebeu que foi seu momento de maior evolução enquanto autor?
Esse ano de 2021 sem dúvida. Quando eu entendi que eu deveria mergulhar na minha experiência de vida e não fugir para um lugar fantasioso, minha escrita começou a fluir por lugares que eu me sentia mais satisfeito. Devo muito também aos coletivos de escritores que faço parte e, principalmente, a meus companheiros e companheiras do coletivo Potocando!
Comments