Era uma vez, em um reino próximo, uma bela jovem, sagaz, curiosa e inventiva. A moça, cheia de vida, gostava de ajudar a todos. Buscava sempre novas formas de facilitar a vida das pessoas. No que dependesse de sua vontade, todos viveriam felizes e sem preocupações.
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Entretanto, era crença comum entre os aldeões que terríveis vilões amaldiçoaram-na. Ela estaria fadada a um sono profundo e duradouro. Quando o esconjuro veio, a partir de seu sono, os pesadelos chegaram para todos os moradores do reino.
Em vários períodos da história, os aldeões, sob influência dos pesadelos, adquiriram um ódio absoluto uns sobre os outros, irrompendo em longas guerras. Milhares de pessoas morreram. Então, alguns sábios resolveram que deveriam procurar formas de despertar a moça, com o objetivo de trazer a alegria de volta.
Todo o reino exultou com tal perspectiva. Trazer a donzela de volta salvaria a todos. Apenas sua presença bastaria para afugentar as mazelas do reino. Assim, começaram a buscar várias formas de acordá-la.
Em suas pesquisas, os sábios descobriram duas coisas sobre o que causara o sono da jovem donzela. A primeira: seu sono não foi causado por uma maldição. A segunda: havia a ordem dos iluminados, uma sociedade secreta que se beneficiaria do caos gerado.
Vários esforços foram empreendidos para acordá-la. Após anos de estudo, conseguiram despertá-la em um estágio letárgico, mas mesmo nesse estado, ela conseguiu reduzir o efeito dos pesadelos e começou a trazer prosperidade para todos.
Uma nova organização social surgiu e aparentava reduzir o risco dos pesadelos. Carruagens mágicas, que se moviam sem cavalos, e poções que curavam as doenças trouxeram comodidade para muitos aldeões. Aquele breve despertar da donzela gerou inúmeras maravilhas, como novas formas de garantir comida para todos. Os aldeões estavam otimistas com a segurança que o reino passava a ter. Mas isso não permaneceria assim por muito tempo.
A ordem dos iluminados aprendeu a lidar com o novo contexto de prosperidade, e logo intervieram para que a moça voltasse a dormir. Em efeito, o reino foi atirado ao caos, dessa vez de forma muito mais violenta, pois os pesadelos conseguiam usar as invenções da moça para controlar a mente dos aldeões e fazê-los brigar entre si.
Depois de longos anos aflitos, banhados de sangue e miséria, os sábios, em afã esperança, mais uma vez tentaram fazer a jovem sair de seu descanso comatoso, mas havia algo diferente.
Os iluminados conseguiram uma forma de mantê-la sonâmbula e buscaram formas de se beneficiar dos dotes da moça, sem ela jamais despertar por completo. Desenvolveram suas próprias invenções, mas a tal prosperidade jamais chegava para os aldeões. As pessoas comuns continuaram a sofrer as mais diversas manipulações por parte dos pesadelos. O reino continuava instável.
Os sábios tentaram enfrentar os iluminados. Buscaram lembrar os aldeões dos desenvolvimentos que a moça trouxe. Procuraram lembrar-lhes da importância de despertar a moça e que isso demandaria um esforço de todos. Tudo em vão. Manipulando as habilidades da jovem adormecida, a ordem secreta conseguiu criar para si uma imagem heroica.
De seu mundo de opulência, atiravam migalhas para alguns aldeões. Apenas o suficiente para manterem-se como salvadores. Conseguiram também total controle sobre os pesadelos e passaram a manipulá-los de forma consciente. Foi assim que conseguiram desacreditar os sábios.
A bela adormecida permanece em um estado contínuo de sonambulismo. Os aldeões chegam a acreditar que aquele estado miserável é a sua condição natural.
Quaisquer aldeões que se rebelem, assim como os sábios, são desacreditados, banidos e condenados ao ostracismo, ou mesmo mortos.
Após mais alguns anos de estudos, os sábios descobriram que os pesadelos não eram naturais, foram criados pela ordem dos iluminados a partir do sono da moça. Embora não conseguissem fazer muita coisa naquele contexto, chegaram à seguinte conclusão: O sono da razão produz monstros.
Conheça o autor
Nilo Nobre é um escritor e aprendiz de quadrinista graduado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), mestre e doutor em Arqueologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
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Revisão e edição por Elisa Fonseca
Colagem e ilustração por Filipo Brazilliano e Naiara Íris
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