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A série "Desalma" e o divisor de águas da produção Nacional

Texto por Maria Moreschi (@Madumoreschi_)


Poster da série produzida pela Globoplay "desalma"
A série original GloboPlay "Desalma"

Não vamos falar sobre o sistema de produção nacional. Mas é fato que a nova série e aposta de terror original GloboPlay, "Desalma" (uma produção dos estúdios Globo e inteiramente nacional), lançada quinta-feira, 22 de Outubro de 2020, veio como um divisor de águas. Não só em termos de desmistificar a qualidade e o empenho dos profissionais que fazem a sétima arte no país, como também em termos práticos.

O estudo de público e o investimento tecnológico correto para esse projeto trouxeram a lucidez e o preparo de uma narrativa nacional com bases ainda pouco exploradas. As culturas folclóricas e pagãs, trazidas, de forma nada romântica, pelos imigrantes europeus para o interior do sul do país.



Com a segunda temporada confirmada e a primeira exibida no Festival Internacional de Cinema de Berlim e anteriormente durante a CCXP (Comic Con Experience) em São Paulo, "Desalma", antes mesmo de ter sido lançada, já demonstrava para o que vinha.


Livro: "Enterre seus mortos"

A princípio, nada seria tão impactante assim, nem mesmo a direção de fotografia fantástica da série, sem que uma boa narrativa, ou melhor, um bom roteiro fosse feito. A curiosidade é que o pensamento por detrás dessa história vem da literatura, através do livro "Enterre os Seus Mortos" de 2018. A autora Ana Paula Maia, que inspirou a adaptação para a série é novata no ramo das produções de cinema. Ela, uma carioca de Nova Iguaçu, se mudou para Curitiba e lá mergulhou na cultura imigrante Ucraniana e Russa com um olhar particular, trazida de uma experiência bastante marcada pela violência que experienciou em sua infância. Esses dois fatores são a base da maioria de seus trabalhos que se categorizam nos gêneros de suspense e terror.


A premissa da série indica: "três famílias ligadas pela maldição de um assassinato, tem de lidar com as consequências do mistério da morte mal resolvida".

Trama > enredo > conflito


A série é ambientada em duas linhas temporais distintas. Abrimos a narrativa em 2018, com o primeiro incidente incitante do enredo no tempo narrativo principal, o qual toda a trama desenrola-se. Nesse sentido, a história se passa na cidade fictícia de Brígida no estado do Paraná, sul do Brasil. No tempo presente seguimos o personagem de Roman Skavronski (Nikolas Antunes) em uma curta aparição de volta a cidadezinha de imigrantes Ucranianos onde nasceu, depois de muitos anos. De cima de uma cachoeira ele pede desculpas a "Giovana" e joga-se de lá de cima. Em conseguinte, as perguntas que ancoram todas as ações seguintes do plot -que costuram a trama- é estabelecida: Porque Roman se matou? Quem é Giovana? Porque ele pediu-lhe desculpas antes do suicídio?

Em poucos minutos descobrimos que Giovana (Maria Ribeiro) é a esposa de Roman e que eles juntos possuem duas filhas, Melissa Skavronski (Camila Botelho), a mais velha e Emily Skavronski (Juliah Mello), a mais nova. Nesse contexto, juntas, as três mudam-se de São Paulo para a cidade de Brígida, onde pretendem recomeçar a vida na casa que herdaram de Roman, após a tragédia. No entanto, forças ocultas pairam sobre a cidade. Essa obscuridade é sentida principalmente pela terceira geração, ou seja, as crianças, da família amaldiçoada na cidade, respectivamente Emily Skavronski e Anatoli Skavronski Burko (João Pedro Azevedo). Uma velha bruxa chamada Haia Lachovicz (Cássia Kiss) pressente que uma vingança do outro mundo aproxima-se rapidamente do passado mal resolvido. Assim que a velha esbarra em Giovana e suas filhas, começa a entender a mensagem dos espíritos. Mais precisamente o espírito de Halyna Lachovicz (Anna Melo), sua filha e também bruxa (também denominada Mavka após a morte, um tipo de espírito do folclore Eslavo), que fora assassinada e o crime nunca fora solucionado durante a celebração de uma festa pagã típica Ucraniana chamada Ivana Kupala, no ano de 1988 (a segunda linha narrativa), nas florestas que rondam a cidadezinha de Brígida.


O festival de Ivana Kupala na cidade fictícia de Brígida em 1988.


A morte de Halyna é, em termos narrativos, o segundo incidente incitante da história, pois é mostrado mais a frente no desenrolar da série e contada pelo recurso sucessivo da montagem, ou o chamado flashback. Esse subterfúgio, nesse sentido, não se torna uma referência apenas de contextualização ou noção de espaço temporal na história, mas torna-se parte importante do avanço da narrativa em termos práticos. Ou seja, em um espaço de trinta anos de acontecimentos, as duas linhas narrativas se complementam de forma a uma depender da outra, como se os incidentes na cidade de Brígida fossem mesmo de uma outra dimensão mística, a qual o tempo é relativo. O que é bastante interessante na série. O segundo plot, portanto, é definido. E as perguntas se acumulam, tornando o engajamento do espectador mais aderente a trama: Quem matou Halyna? Porque ela morreu e seu assassinato não foi resolvido?

Ao avançarmos, descobrimos outros personagens importantes, respectivamente ao protagonismo trilateral na série, juntamente com Giovana e Haia, Ignes Skavronski (Cláudia Abreu) completam as perspectivas desenvolvidas no decorrer dos episódios. Isso porque Ignes é uma peça chave. Essa personagem é casada com o melhor amigo de Roman, Bóris Burko (Ismael Canneppele), mãe da criança assombradas, Roman e Halyna, filha do homem mais rico da cidade, Viktor Skavronski (Luciano Chirolli) e irmã de Aleksey Skavronski (Nicolas Vargas). O suposto assassino de Halyna no passado, que foi dado como morto após um acidente de carro na juventude. Sendo seu pai e seu irmão personagens muito importantes, mas sumariamente desenvolvidos dentro da segunda linha temporal da série, ou melhor, dentro dos acontecimentos de 1988. Com a decisão da retomada da tradição de Ivana Kupala, cancelada a 30 anos devido o último incidente com a morte Halyna, todas as partes fundamentais da cidade começam a sofrer com intensos acontecimentos macabros. Os personagens secundários dão a liga para que a teia dos mistérios se desenrolem e encorpem.

Em 2018, os jovens filhos da segunda geração do mistério mal resolvido, respectivamente Iryna Burko (Nayhália Falcão), irmã gêmea de Maksym Burko (Giovanni de Lorenzi) e filhos de: Anele Burko (Isabel Teixeira), Ivan Burko (Giovanni Gallo/Bruxe Gomlevsky) - dono de uma grande fazenda de porcos que abastecem a indústria suína da família Skavronski e irmão de Bóris -, começam a tomar as rédeas do avançar da história. Eles possuem uma personalidade curiosa e aventureira, que os acaba colocando em situações chaves para o prosseguimento do conflito maior: quem ou o que está se vingando da cidade?


Essas respostas nos são respondidas na primeira temporada, mas elas são só o começo de muito mistério que ainda está por vir...


Sequência das fotos: Anatoli Skavronski Burko (João Pedro Azevedo), Halyna Lachovicz (Anna Melo), Giovana Skavronski (Maria Melo), Roman Skavronski (Eduardo Borelli/Nikolas Antunes), Haia Lachovicz (Cássia Kiss), Ignes Skavronski (Valentina Ghiorzi/Claúdia Abreu), Bóris Burko (Lucas Soares/Ismael Canneppele), Anele Burko (Isabel Teixeira), Ivan Burko (Giovanni Gallo/Bruxe Gomlevsky), Vladimir (Evandro Soldatelli), Melissa Skavronsku Camila Botelho), Iryna Burko (Nayhália Falcão), Maksym Burko (Giovanni de Lorenzi).


Texto por Maria Moreschi (@Madumoreschi_)


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