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Lobotomia, Fantasia distópica de N. A. Rondán

"– O que é cristão? – perguntou ele.

– Não preocupe sua cabecinha com isso – Hela disse, enquanto acariciava sua cabeça com leves batidinhas, como faria com um cachorro.

Diante do palanque a multidão aplaudia e gritava entusiasmada. A imagem, então, mudou para uma repórter que colocava o microfone diante de uma criança de cerca de sete anos.

– O que você quer ser quando crescer? – perguntou a repórter encurvada para ficar mais próxima da criança.

–Um lobo –respondeu o menino."


Lobotomia” é uma obra de fantasia sombria de N. A. Rondán, lançada no dia vinte de Fevereiro de 2021 na Amazon. Contém cento e uma páginas e vinte e um capítulos escritos em numeração romana.


O enredo traz um suspense em torno de um remédio milagroso que tem sido comercializado ilegalmente nas academias prometendo reverter a calvície, aumentar a massa muscular e causar emagrecimento. Porém, o efeito colateral asqueroso: acaba transformando os usuários em criaturas bestiais e violentas.


Três bravos agentes federais chamados Valquíria, Bárbara e Fabrício. Valquíria é a primeira personagem a ser revelada ao leitor. Ela ama seu trabalho, mas está cansada de sofrer preconceito na área em que trabalha apenas por ser mulher. Quando um de seus amigos usuário do remédio se transforma diante de seus olhos numa criatura grotesca quase à prova de balas, Bárbara e Fabrício juntam-se a ela para investigar e descobrir o que está acontecendo. Bárbara é uma mulher negra, moradora da periferia que não baixa a cabeça nem leva desaforo para casa. Já Fabrício é considerado o nerd do departamento, Fabrício se juntou à policia para ajudar vitimas de feminicídio. Os três juntos tentam resolver a situação caótica em que se encontram.


O livro é aconselhado apenas para maiores de dezoito anos por conter cenas gore, sangue e violência explícita. Além disso, o fascismo também é retratado na obra de uma forma bastante crua por parte da autora. Na nota deixada nas últimas páginas nos é revelado que a personagem Hela foi inspirada em Benito Mussolini. A autora aponta que o fascismo “nem sempre se mostra como o de Hitler” e para sustentar estas considerações faz uso de referências à Willyan Johnes e letras da banda britânica Radiohead.


Lobotomia” é um livro pesado, mas é um livro necessário para os leitores maiores de idade. Um povo com cultura saberá melhor em quem votar nas eleições.


Conheça N. A. Rondán

Nathália Rondán é formada em Letras pela UFMG. Atua como tradutora, preparadora, revisora e escritora. Começou a escrever ainda criança, aos 9 anos, e escreveu seu primeiro romance aos 19 anos, porém só teve coragem para publicar algo em 2019.

Nathália, como foi o seu início na literatura?


Comecei na terceira série, minha professora era apaixonada por literatura e nos incentivou a ler poesia para crianças e criarmos nossas próprias. Claro que eram rimas pobres, não sou um prodígio estilo Mozart, nem nada do tipo. Mas comecei assim e nunca mais parei. Sou uma leitora bem eclética e nunca delimitei minha imaginação para se enquadrar em um gênero. Não gosto de rótulos em âmbito nenhum. A maioria dos meus contos e romances são mash-up`s: incluem elementos de vários gêneros. Lobotomia, por exemplo, é uma distopia com terror gore e elementos de fantasia sombria. Já Segredos de Sangue mistura romance com fantasia e elementos góticos.


Quais são as temáticas e elementos recorrentes em suas narrativas?


Eu sou fã de George Orwell. Já li tudo dele, até os artigos como jornalista. Acho que arte é política, porque ainda que o escritor opte por não se posicionar, ele está sendo político. Todas as minhas narrativas incluem críticas sociais, geralmente voltadas para a opressão da mulher e subjugação do feminino em uma sociedade patriarcal. Temas como violência doméstica, assédio no trabalho, comunidade LGBTQIA+ e racismo são pautas que me sinto na obrigação de usar em meu privilégio como mulher branca de classe média alta para questionar e tentar mudar.


"O lobotomia", por exemplo, fala de assédio no trabalho, racismo e a personagem principal é LGBTQIA+. Mas em suma, ele é um desabafo da minha indignação com o descaso desse atual desgoverno em relação à vida de seus cidadãos.


Como foi o processo de escrita e pesquisa?


Eu sempre li muita não-ficção: psicologia, história e filosofia. Comecei a escrever Lobotomia assim que percebi semelhanças entre a ascensão do governo Bolsonaro com a ascensão do fascismo na Itália. Li vários livros sobre Mussolini, fascismo, psicologia de massas e vários artigos do George Orwell sobre o tema. Ele foi combatente na Guerra Civil Espanhola em 1936-1939, onde se travou uma luta entre os fascistas liderados por Francisco Franco e a oposição democrática.


Como funciona seu processo de criação?


Na verdade meu processo é o inverso dos escritores organizados que planejam tudo e depois escrevem. Eu escrevo e depois, na hora da autoedição, coloco tudo em planilhas, diagramas, etc. Meu processo é bem orgânico no início. Gosto que os personagens criem vida e façam a história se desenrolar. Depois volto, alinho e amarro tudo. É mais trabalhoso, mas é como minha cabeça funciona.


Quem você sente que influencia o seu trabalho?


Fora o George Orwell, gosto mto de Stendhal, George Sand, Poe, Ann Radcliffe, Jane Austen e Guimarães Rosa.



Resenha de Diana Pinto
Edição e revisão por Elisa Fonseca
Entrevista e edição de imagens por Filipo Brazilliano


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