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O cinema sensorial de Jessica Gonzatto

Atualizado: 13 de mai. de 2021

Jessica foi vencedora do Prêmio Machado da Darkside na categoria ‘Outras Narrativas’, com a obra Dores do Parto, um curta de terror psicológico.


No último mês começamos uma série sobre alguns vencedores do prêmio Machado, realizado pela editora brasileira Darkside. O primeiro entrevistado foi Rafael Calça e hoje trouxemos Jessica Gonzatto que venceu na categoria ‘Outras Narrativas’.


Jessica é cineasta, roteirista, redatora, diretora de audiovisual e fotografia, além de cantora e compositora gramadense. Produziu outros dois trabalhos no ano de 2018, ‘Coágulo’, vencedor do prêmio de Melhor Curta no 1° FUCCA, o qual ela dirigiu e roteirizou e ‘Carcaça’, vencedor do prêmio principal do MetroLab (2018), onde ela desenvolveu o roteiro e o pitching.


(Imagens do curta ‘Coágulo’-2018)


Um universo narrativo havia sido criado em “Carcaça” e Jessica deu continuidade a ele no novo projeto “Dores do parto”, inserindo novos personagens e desafios. O objetivo de Jessica foi construir uma personagem que “piora” com o passar da narrativa, cujas escolhas são reativas, extremas e egoístas. A abordagem utilizada foi através de metáforas acerca de diversas sensações incômodas, como a dor física e o arrependimento.


Muitas influências artísticas e naturais foram utilizadas na construção do filme. Da natureza, a neblina, fenômeno natural presente na vida da autora que cresceu na serra gaúcha, surge quase como uma personagem própria. Da literatura, a urgência de transmitir palavras e o amor às letras aparecem também, assim como elementos de suspense de Shirley Jackson, Henry James e Oscar Wilde, com “O Retrato de Dorian Gray”. Das artes plásticas, as obras do artista Nicolà Samorie e da música, artistas como Rachmaninoff, Radiohead e The Dead Weather, também a inspiraram na criação desse universo.


A ideia do curta surgiu no início do ano, enquanto Jessica refletia sobre a dor na obra de Nietzsche, assim nasceu o conceito geral do filme. A autora uniu alguns medos pessoais como o medo de sucumbir a um egoísmo absoluto e o de desistir da vida e gerou um terror psicológico que confunde os fatos reais com os imaginários.


Como recursos para o gênero, Jessica escolheu uma personagem feminina que toma decisões antagônicas. Isso aparece tanto na narrativa como nas figuras de linguagem. Optou também por atmosferas descritas com sons, memórias e histórias contadas. A questão da desconstrução da maternidade, foi o ponto central para o suspense.


Em ‘As dores do parto’, Jessica retrata o lado obscuro desse papel materno, os traumas e medos decorrentes disso. O roteiro tem uma ambientação focada no horror, com cenas marcantes e cheias de envolvimentos do passado dos personagens. Uma história que tece temas profundos como egolatria, assassinato e manifestação da psique.


O processo de pesquisa utilizado costumeiramente pela autora é a imersão. Ela pesquisa sintomas, causas, histórias e abordagens narrativas. Um dos assuntos aprofundados foi a teoria psicanalítica, que teve um papel fundamental nesse processo, pois trouxe possibilidades de construir personagens focando no “trajeto psíquico” de suas vidas. Isso influenciou a descrição de características físicas e comportamentais das personagens, trouxe mais peculiaridades a elas.


Para enfim colocar o projeto em prática, a autora contou com a ajuda de seu parceiro, também roteirista, Guilherme Soares Zanella, que foi parte integral de seu processo criativo. Ele é um profissional focado na boa construção de personagens, no mapa emocional e da atmosfera. Auxiliou portanto com informações valiosas e sugestões de momentos-chave.


A história central é sobre Valentina, uma escritora de meia-idade que vive sozinha num casarão isolado pela neblina grossa. Ela está no processo de escrever suas últimas memórias e luta contra a deterioração da visão. Em meio à rotina, ela começa a sentir dores no ventre, de parto, mas sem explicações. Nisso, surge um menino, vindo da neblina, que pede ajuda e abrigo. Valentina, então, precisa cuidar do menino de maneira forçada, inesperada, enquanto luta contra os efeitos do tempo no próprio corpo.


A jovem cineasta acredita que o mais importante para os que estão iniciando na profissão é conhecer-se bem e colocar-se na na obra, com sinceridade e vulnerabilidade. “Acredito que algo importante é sempre manter um diálogo consigo mesmo. Admiro muito a capacidade de um artista de elaborar questões complexas e difíceis em algo que outras pessoas gostam, consomem e se identificam.”


Acreditar no próprio ponto de vista e construir um discurso baseado nas vivências é algo que demanda coragem, mas é muito libertador para a autora que busca sempre se aprimorar de diversas formas, ser sincera e autêntica em seu discurso.



Por fim, Jessica fala sobre suas perspectivas de futuro após o Prêmio Machado, revelando que graças ao prêmio o roteiro já está saindo do papel, estando em um processo de ‘pré produção’ para virar um filme. Além de trazer uma novidade empolgante para os amantes do cinema, dizendo que no ‘Núcleo Criativo Writer’s Room 51’ fundado por ela e seu parceiro Guilherme Zanella está sendo elaborado alguns projetos, como uma série de pesquisa piloto chamada “Dealing”, que é um drama/comédia criminal, assim como uma série de comédia chamada “Sala de Roteiro de Shakespeare”; além de um longa também em parceria com Guilherme chamado “Água Viva”, que possui produção executiva da Paideia Filmes. Jessica se mantém ativa em seu portal e de Guilherme ‘Writer’s Room 51’, produzindo matérias, entrevistas e ações voltadas a roteiristas e autores.


Pesquisa bibliográfica e matéria feita por Elisa do Vale Fonseca a partir da entrevista de Jennifer Valverde


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