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Foto do escritorJennifer Valverde

O direito ao voto: uma expressão feminina, política e artística.

Atualizado: 20 de ago. de 2021

Uma história do voto feminino mundial e a relação entre o movimento feminista brasileiro com a Semana de arte moderna.



No dia 03 de novembro comemoramos, em território nacional, o dia da Instituição do Direito ao Voto da Mulher, que foi protocolado pelo então presidente Getúlio Vargas em meados dos anos 30. Para se falar em voto feminino temos que lembrar de um movimento que foi crucial para essa questão: o movimento sufragista.


O que é esse tal de movimento sufragista?


Na Inglaterra do século XIX, em uma realidade pós revolução industrial, a necessidade de inclusão da mulher se tornou necessária. Iniciou-se assim um processo de busca por direitos políticos para mulheres, mais especificamente, o direito de voto e de se candidatar.


Isso ocorreu na chamada primeira onda do feminismo (metade do século XIX). No início, o movimento foi essencialmente caracterizado por mulheres da burguesia, de classe alta e média, que perceberam como as leis e a educação voltadas para as mulheres estavam defasadas. À partir delas, outras mulheres de baixa renda, que sofriam de exaustão e baixos rendimentos financeiros nas fábricas, se juntaram à causa.


Em 1903 as suffragettes fundaram a agremiação Women’s Social and Political Union, cuja líder era Emmeline Pankhurst.

“As Sufragistas” (2015) é um filme que traz personagens reais e fictícios. O longa mostra as organizações que incentivaram a conquista do voto feminino na Inglaterra. Uma importante discussão abordada no filme é: a visão dessas mulheres era relacionada com o estereótipo de histeria e loucura.


Em As Sufragistas vemos uma cena adaptada e muito famosa que marcou o movimento. Em uma corrida, a professora Emily Davison jogou-se na frente do cavalo do Rei Jorge V, ato que a matou, transformando-a em um símbolo e mártir para o movimento sufragista.


E o Brasil, onde entra nisso tudo?


Em 1832, Nísia Floresta publicou o artigo “Direitos das mulheres e injustiças dos homens”, onde defendia o acesso igualitário à educação e aos direitos políticos. “Por que a ciência nos é inútil? Porque somos excluídas dos cargos públicos; e por que somos excluídas dos cargos públicos? Porque não temos ciência.” Direitos das mulheres e injustiça dos homens, 1832. Mas, foi somente nos anos 30 com a pressão de liberais e feministas que Getúlio protocolou a primeira lei de voto feminino em todo território nacional.


Ao olharmos a arte da época, seja na pintura, nos livros ou nos manifestos, vemos que havia uma grande pressão de ambos os lados, pessoas que concordavam com a luta feminina e outras que discordavam ferrenhamente.

Na obra “Direitos das mulheres e injustiças dos homens”, Nísia faz um paralelo de ideias sobre a posição feminina e masculina dentro da sociedade e o quanto ambas estão interligadas. Ela aponta sobre a dependência que o homem tem da mulher, não só o contrário, como se era (e ainda é) propagado pela sociedade.


“Para que servem os juízes, os magistrados e os oficiais, senão para garantir a segurança e propriedade dos bens daqueles que, se não fosse proibido, seriam capazes de fazer justiça a si mesmos, mais exata e prontamente? Porém as mulheres, mais verdadeiramente úteis, se ocupam em lhes conservar a vida para gozarem dessa propriedade. Estimam-se e recompensam-se os soldados, porque combatem para defender os homens feitos, que são tão capazes, e mesmo mais que eles, de se defenderem. Com quanta maior razão não merece o nosso sexo essa estima e recompensa, trabalhando para defender os homens numa idade em que não sabem o que são, não podem distinguir os amigos dos inimigos, e nem têm outra defesa mais que suas lágrimas?”

Direitos da mulheres injustiças dos homens (pg 83 e 84).

Já em 1923 temos um paralelo interessante, a relação do contexto político com o contexto artístico. Para esse movimento, Dona Olívia Guedes Penteado, ou somente “Nossa Senhora do Brasil”. Tal apelido lhe veio por sua posição em busca de direitos igualitários. Ela criou o Salão de Arte Moderna e impulsionou a candidatura de Carlota Pereira de Queiroz, a primeira mulher a se eleger como deputada no Brasil.


Do movimento modernista vemos a ascensão do papel da mulher na arte e na vida pública. As modernistas abriram espaço feminino nas artes plásticas brasileiras. Por exemplo, na obra de Anita Malfatti “A boba”, podemos ver um retrato feminino que atravessou gerações.


Essa é só uma das obras que impactaram, não somente a geração de 30, mas todas as outras que vieram depois. Patrícia Gomes, artista plástica colagista e escritora se influenciou bastante pela arte de Anita, pela técnica, força e representação de retratos em suas obras e reverencia a importância das artistas que participaram da semana de arte moderna.

Em sua fala sobre Tarsila, Patrícia descreve um pouco de sua visão:


“Tarsila teve sucesso em conseguir equilibrar em seu trabalho o frescor que o modernismo brasileiro intencionava alcançar ao mesmo tempo que presta reverência e respeito a história do país. Ela tem consciência das várias misturas que são nossas raízes, das cores e formas da natureza e do povo. Acho que as mulheres do Brasil, antes de qualquer luta, precisam lembrar do que somos feitas, de onde viemos, quem foram nossas ancestrais, de onde foram sequestradas, das violências que pintaram nossa trajetória. Sem essa reflexão, sem compreender a profundidade das nossas diferenças (abismos sociais maquiados de "diversidade"), qualquer luta ou conquista se torna vazia.”


Em 24 de fevereiro de 1932 é intitulado o voto feminino. Não foi uma conquista rápida e nem feita por uma ação de um só movimento. Essa conquista levou décadas e foi marcada por feitos artísticos de indignação e retaliação. Mulheres quebraram padrões aos poucos, lutando frente a frente com as leis, criaram espaços artísticos, pincelaram tanto outras mulheres de um ponto de vista real, quanto o próprio mundo, escreveram livros e manifestos. Cada mulher teve um papel importantíssimo para a concretização desse direito para que hoje a mulher possa decidir não somente em quem votar, mas para que ela, enfim, encontre uma esfera que se importa com sua voz.



Pesquisa através do Brasil escola, Domínio Público, Sielo, Sesesp, Correio braziliense e Fee.



Pesquisa e matéria por Jennifer Valverde

Ilustrado por Patrícia Gomes

Edição por Elisa Fonseca

Revisão por Nox Santos


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2 Kommentare


escritosdafe
03. Nov. 2020

Matéria mais do que importante num momento em que estamos há poucos dias das eleições municipais. Parabéns

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Bruna Morais
Bruna Morais
03. Nov. 2020

Parabéns pela matéria, Jennifer! Um assunto de extrema importância em um cenário e uma hora extremamente cabíveis! Adorei a matéria!

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