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Os mortos Herdarão a Terra, de Thais Messora

Atualizado: 21 de nov. de 2022

Ao longo das 71 páginas da novela de Thaís Messora, acompanhamos a jovem Lucinda em sua primeira investigação paranormal ao lado do já experiente Inácio. Ambos visitam a mansão do casal Átila e Suzana, onde também vive a mãe do primeiro, Iolanda. E, logo no começo, fica evidente que a família esconde mais do que revela. Com esse enredo, não foi difícil me convencer a ler Os Mortos Herdarão a Terra. Investigações paranormais e segredos em um casarão assombrado no Rio de Janeiro de 1905? Pode contar comigo!




Nossa protagonista é perceptiva e inteligente, com forte senso de justiça, mas também bastante inocente. Ela cresce durante a novela, e essa história me parece ser só o começo de sua jornada, mas confesso que tive vontade de dar uma sacudida na jovem. Lucinda chega a afirmar não ter poderes mediúnicos logo após presenciar diversos eventos paranormais nos últimos minutos. Amiga… deixa eu te contar uma coisa!


Mesmo em uma narrativa de constante ação, Thaís não se esquiva de assuntos delicados. O papel da mulher, relações familiares, abuso de poder, desigualdade social… tudo é abordado na história, de maneira respeitosa e responsável. O elemento sobrenatural está aliado a isso, o que só eleva a narrativa e confirma o poder do horror em tratar de assuntos relevantes. A autora usa o período histórico a seu favor para falar de problemas que ainda atormentam a sociedade brasileira, mais de um século depois.


Algumas subtramas não são desenvolvidas, e confesso que gostaria muito de ter respostas para perguntas sobre o passado misterioso de Lucinda. Será que a veremos novamente no futuro? Só resta aguardar…


Conheça a autora


Thaís Messora é formada em História pela UFRJ, mas acabou descobrindo que o tipo de história que deseja contar são as de suspense e terror. Participou de coletâneas e é autora de Os Mortos Herdarão a Terra, Medos Infantis e Os Lamentos de Isa, todos disponíveis na Amazon.



Thais, conta pra gente quais foram suas primeiras leituras?

Sinto que minha relação com a literatura é como uma sobreposição de camadas. Começou com meu interesse por histórias quando ainda era criança. Eu lia e assistia tudo o que me aparecia pela frente: de revistinhas da Turma da Mônica aos antigos livros de alfabetização da minha mãe que encontrei na casa da minha avó, nada passava sem a minha leitura.


E como se deu os primeiros contatos com o universo do horror?

Como filha única, passava muito tempo sozinha e me distraía com os filmes do Cinema em Casa no SBT, que, na época exibia títulos como O Ataque dos Vermes Malditos, Evil Dead e A Hora do Pesadelo. Foi assim que o meu interesse por histórias se tornou mais específico e passei a amar o gênero de terror.


A escrita foi na mesma época? Como foi o início?

Mais tarde, na adolescência descobri Agatha Christie e passei a devorar seus mistérios. Como sempre gostei de ler, escrever veio como uma consequência natural. Nessa época ainda não criava histórias, mas era excelente em redação. Foi quando comecei a acalentar o sonho de um dia trabalhar com escrita. Porém, a vida é uma estrada cheia de desvios e sobressaltos. Numa das curvas do caminho, meu sonho acabou ficando para trás. Prestei vestibular para História, depois fiz concurso público. Ainda pensava em ser escritora, mas as responsabilidades da vida adulta falavam bem mais alto.


Foi só em 2014 que percebi que o rumo que eu estava tomando não era nada bom. Mergulhada em uma depressão paralisante, fui aconselhada pela médica a procurar um hobby, algo que eu gostasse de fazer. Não pensei duas vezes: era a escrita.


Ainda bem, porque a literatura precisa de escritoras fortes como você. Pode dar um pequeno resumo da sua trajetória de escrita?

A princípio criei um blog que abandonei meses depois, mas foi o suficiente para me dar o primeiro fôlego que eu precisava para mergulhar de cabeça na literatura. Comecei a escrever meu primeiro livro que levou dois anos para ficar pronto e mais dois de correções, ajustes e revisões. Tive altos e baixos, mas nunca mais parei de escrever. Apesar de escrever sempre, tinha muito receio em colocar minhas histórias no mundo, aterrorizada (sim, como escritora de terror, sou uma pessoa extremamente medrosa) com o que iriam pensar de mim.


Publiquei um conto ou outro em antologias, mas foi apenas em 2020 que resolvi lançar um trabalho solo. Foi assim que nasceu “Medos Infantis”, uma coletânea de 3 contos sobre alguns dos terrores que rondam a infância, publicado pela Editora Corvus. Depois veio o conto “Os Lamentos de Isa”, uma versão melhorada e ampliada do conto originalmente publicado em uma antologia. Por fim, em abril deste ano, veio ao mundo meu novo orgulho, “Os Mortos Herdarão a Terra”, uma noveleta que une dois elementos que fazem meu coração sombrio bater mais forte: a História do Brasil e o terror.


Existe algum tema que permeia suas obras?

O terror feminino sempre está presente na minha escrita. Esse é um tema que me toca e, como a opressão contra as mulheres é tão presente em nosso cotidiano, seria impossível para mim não falar sobre isso. Assim, minhas histórias acabam abordando temas como relacionamentos abusivos, violência doméstica, a naturalização da masculinidade tóxica, misoginia e etc.


Vejo uma relação bem próxima entre a literatura e a sua graduação em História. A própria história pode ser vista como uma ficção, por ser um ponto de vista parcial. Essa relação interferiu nas suas obras?

Eu acredito que minha formação em História me traz muito uma visão social para a minha escrita. Logo no início da faculdade, aprendemos a observar a produção cultural de uma determinadas época como um espelho daquele tempo.


Por isso, sempre fico me perguntando: Quais são os monstros que permeiam nosso imaginário hoje? Que terrores nos tiram o sono?


Thais, como escritora de horror, qual é sua coisa preferida dentro desse universo?

O horror é um gênero fundamentalmente transgressor, que tem por objetivo ultrapassar as barreiras daquilo que a sociedade considera "de bom tom". A emoção do inesperado e a possibilidade de ser completamente surpreendida pelas tramas assustadoras me atraem. É um gênero que nos tira de nossa zona de conforto, nos colocando para enfrentar nossos piores pesadelos.


Vamos aproveitar para falar sobre os “vem aís” e para contar aos leitores onde eles podem encontrar mais de seu trabalho!

Atualmente estou trabalhando em um novo livro. É a história de uma golpista que acaba se apaixonando por uma garota marcada por uma maldição e terá que enfrentar as forças do mundo sobrenatural para impedir que sua amada seja morta. Ah, e todos os meus livros se encontram na Amazon.


Conheça a resenhista


Cíntia Alves é cearense e tem 31 anos. Leitora compulsiva, escritora de ocasião, ganha noites insones entre doces pesadelos; tenta convertê-los em palavras. Nem sempre consegue.



Resenha por Cíntia Alves
Edição e preparação por Elisa Fonseca
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