A revista Perpétua selecionou três gêneros e diversos autores para dissertar sobre o prêmio Wattys. Um importante meio de divulgação da literatura independente. Essa é a nossa primeira reportagem da série.
História do Wattys
Em 2011, o Wattpad, aplicativo e plataforma social voltada para a leitura, lançou o seu primeiro concurso. Haviam apenas três categorias nessa primeira versão do prêmio (popular, ascensão, e sem descobrir). Entretanto, foi só no verão de 2012 que o concurso ganhou o nome como o conhecemos.
A plataforma convidou a autora Margaret Atwood e foi feito o primeiro grande concurso na plataforma, dedicado à poesia. Os poetas que já estavam com obras presentes no aplicativo foram convidados a participar como entusiastas ou competidores.
E afinal o que é o Wattys?
O Wattys é um dos maiores prêmios da literatura online. Ele é uma forma alternativa de estrear no mercado literário, sem depender das tradicionais editoras. Para participar do concurso basta ter uma obra concluída com mais de 50 mil palavras publicada na plataforma.
Nesse último concurso nove categorias foram disputadas entre autores do mundo inteiro, e são elas: Fanfiction, Fantasia, Ficção Histórica, Terror, Paranormal, Mistério e Suspense, New Adult, Romance, Ficção Científica e Young Adult. Para cada categoria cinco obras foram eleitas como vencedoras.
A revista Perpétua decidiu selecionar três dessas categorias e convidar seus autores contemplados para conversar sobre suas obras. O tema da edição de janeiro é ‘Mistério e Suspense’, onde conheceremos Audrey Rose autora de ‘O ano da Raposa’ e também o autor J. Igor, que escreveu: ‘Como escrever, matar e publicar’.
Que tal conhecer um pouquinho mais dos autores?
Audrey Rose é uma escritora paulista, que utilizou a sua formação em Tecnologia da Informação para adentrar na área de design de capas e serviços editoriais. Além de ter colaborado como capista na obra de alguns autores da plataforma, ela decidiu trabalhar em suas próprias histórias.
J. Igor é um autor cearense natural de Cedro residente em Sorocaba. Atua na área da saúde como servidor público, porém sua paixão sempre foi a literatura, principalmente o romance policial. Fã de Dan Brown e Agatha Christie, J. Igor é autor de histórias de assassinato e investigação.
Escritores @autora_audreymoura e @j_igor
Importância e relação do prêmio Wattys para os autores
O Wattys atua como uma motivação para autores independentes. Sabemos que o mercado editorial muitas vezes tem os seus estilos e gêneros preferidos. O Wattpad, nesse sentido, funciona como uma fábrica de autores livres. Tanto para explorarem o seu estilo literário como para publicarem quando e como quiserem, já que as publicações são gratuitas.
Para o autor J. Igor, o prêmio faz com que os autores se sintam reconhecidos. Antes de vencer o prêmio, o autor pensou, inclusive, em tirar um ano sabático para reflexão e melhorias da própria escrita, mas com a vitória ele recebeu o incentivo que precisava para investir em sua história e carreira literária.
Já Audrey, se sentiu bloqueada pela temática de seu livro. A densa pesquisa e o conhecimento de que casos envolvendo mulheres e crianças aconteciam todos os dias foram difíceis para a autora. Mas novamente, com a possibilidade do prêmio, a autora terminou o seu livro, pelas palavras da própria Audrey, “na força do ódio”.
Mistério e suspense: dos jornais aos livros
O gênero suspense teve sua origem ligada aos textos jornalísticos de publicações inglesas no século XIX, que abordavam tragédias e crimes não solucionados. Os norte-americanos aprimoraram as notícias inglesas incluindo em seu enredo a figura do policial e do ex-condenado, porém é com o escritor Edgar Allan Poe que as narrativas de suspense ganharam um corpo literário.
Poe estruturava a figura do detetive como protagonista de seus textos policiais. O investigador é o responsável por levar o leitor a um labirinto cheio de mistério, elemento que colaborava na tarefa de manter a atenção dos leitores.
A literatura do mistério, participante também em novelas policiais e de ficção policial, é um tipo específico de história de suspense. As tramas de mistério começam com um crime sendo o conflito central apresentando pistas e suspeitos durante toda a história, para permitir uma resolução final através de uma dedução lógica.
Grande parte dos mistérios inclui um detetive que direciona o leitor através da solução do crime. Em alguns casos, os leitores são colocados em cenários com provas suficientes para a resolução do mistério, já em outros, eles devem acompanhar os personagens até o fim, onde se revela o grande desfecho. Embora seja possível que um mistério seja um trabalho de não-ficção, a maioria deles são fictícios.
“Este prêmio honra os escritores que nos deixam na ponta de nossas cadeiras sem desgrudar os olhos da tela. E não importa se estamos resolvendo um crime ou correndo contra o tempo para impedir que um aconteça, o prêmio de mistério e suspense considera histórias com tramas complexas, altos riscos e muito suspense” (trecho extraído do site wattpad)
Sabendo dessas técnicas, os autores começaram a preparar suas histórias, mas de onde eles tiraram suas inspirações? A preparação de uma história começa bem antes das palavras pousarem no papel. Audrey Rose e J. Igor nos contaram um pouco sobre o processo.
Audrey Rose - O ano da raposa
A autora Audrey Rose, apesar de ter escrito dentro dessa temática, nos confessou que ainda não encontrou seu gênero literário favorito. Ela se mantém então, em uma grande busca de experiências escritas que permeiam entre policial, fantasia, sci-fi e romance. Sua principal referência de escrita é Diana Gabaldon, autora da série de ficção histórica Outlander.
A história de ‘O Ano da Raposa’ escrita por Audrey estava engavetada por alguns anos, mas a ideia nunca saiu de sua cabeça. A trama é sobre uma moça que desaparece por algum tempo, e quando retorna finge estar desmemoriada com o intuito de alcançar vingança contra sua própria família.
Somente em 2020 que a autora se sentiu confiante para voltar a escrever e se inspirou nas narrativas das novelas brasileiras. Algumas referências foram a telenovela ‘A próxima vítima’, escrita por Silvio de Abreu e um velho "hoax" que rondava a época dos memes, via e-mails, sobre um clube de caça humano. Onde sequestravam pessoas e jogavam na floresta para serem caçadas. Esse construto também foi incorporado ao da narrativa.
J. Igor - Como escrever, matar e publicar
Já Igor manteve uma relação mais próxima com o gênero. Quando perguntado sobre as temáticas e ambientações que trabalha em suas histórias, J. Igor prontamente respondeu "ambientes joviais e juvenis, por exemplo: escola". Duas de suas primeiras obras foram citadas como respaldo à resposta: ‘Uma noite em Dead Woods’, seu primeiro conto lançado em 2009 e seu segundo livro “O cúmplice e o assassino”. Ambas obras são de suspense e se encontram na plataforma Wattpad. O cúmplice e o assassino, inclusive, chamou a atenção de uma das embaixadoras da plataforma pela marca de 276 mil leituras.
J. Igor contou à revista Perpétua sobre o funcionamento do seu processo criativo. Ele se enxerga como um arquiteto, que monta o esqueleto de sua história primeiramente na cabeça. Quando começa realmente a escrever o autor se utiliza de escaleta, marcações de eventos importantes e deixa a história descansar por semanas, voltando a tocar no rascunho após ter estudado o suficiente para mesclar o resultado de suas pesquisas com a escaleta.
Buscando por inspirações que ajudassem a compor ‘Como escrever, matar e publicar’, Igor estudou a série de suspense ‘How to Get Away with Murder’, de Shonda Rhimes, com o intuito de absorver elementos criativos e contar uma história mais adulta, com mais reviravoltas e complexidade narrativa.
Em “Como escrever, matar e publicar”, o protagonista e jovem escritor, Micael, consumido pela ambição de ser publicado, começa uma série de atos inescrupulosos. Dessa forma, uma trama entre o jovem e a editora chefe aflora traumas, mistérios e vingança. Um prato cheio para os fãs do gênero.
Um sonho possível
Tanto Audrey quanto Igor se viram admirados com a vitória e, por conseguinte, destaque que tiveram após o prêmio. Afinal, ver seu trabalho ganhar o merecido reconhecimento é um dos melhores prêmios de satisfação. Porque mais do que o destaque do Wattys, eles tiveram grande participação do público leitor.
O mistério e o suspense permeiam as várias mídias que consumimos, sejam quadrinhos, livros, filmes ou séries. Hoje tivemos o prazer de descobrir um pouquinho mais sobre esse mundo através de dois autores enigmáticos. Suas obras mostram que é possível a criação de histórias incríveis, feitas de forma independente.
Essa matéria foi produzida por Elisa Fonseca, Jennifer Valverde e Felipe Henrique e ilustrada por Mystic Art
Deve ser muito legal ter a sua obra no Wattys. Eu até me inscrevi em edições passadas, mas sem sucesso, rs. O que eu achei interessante é que esse "O Ano da Raposa" tem apenas 1500 visualizações, o que mostra que a premiação também prestigia obras menos conhecidas. Torço para que eles publiquem o livro profissionalmente, seja na Amazon ou por alguma editora. O prêmio Wattys com certeza já funciona como um marketing para atrair leitores.