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Favela Gótica, de Fábio Shiva

Atualizado: 21 de set. de 2021

“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras. A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.”


O livro Favela Gótica, do autor Fábio Shiva, é uma ficção científica de dez capítulos intensos, que te levam da escuridão para a luz. Não por coincidência, o livro é dividido em duas partes: Per aspera e ad Astra - das dificuldades para as estrelas. Nessa jornada de iluminação, acompanhamos Liana em busca de conhecer-se e principalmente, sobreviver. Assista a resenha em video:








“É uma vez uma cidade. O nome não importa. Tudo o que importa é a ânsia que aprisiona a narrativa no inexorável tempo presente.” Já no início, Fábio destaca o tom de sua narrativa. O tempo presente utilizado na escrita deste livro não é apenas uma decisão estética, ele contribui para a construção da história. A vida de Liana não acontece apenas no presente narrativo, mas também no nosso presente, em nossas cidades.


Lica, apelido carinhoso da protagonista, é dependente química, uma Bebezê. Acompanhamos a sua vida e as dificuldades em lidar com o vício e com a violência estrutural de sua cidade que, como dito na sinopse, é naturalizada. Ninguém se choca. Nada muda. E a pergunta que não quer calar: Fantasmas existem?


Ao acompanhar a jornada de Liana, o autor me fez ter outra visão sobre a frase de Nietzsche, “Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”. O Autor não tem medo de jogar seu personagem na completa escuridão e fazê-la passar por desafios que tiram o nosso fôlego. Por muitas vezes, eu me senti tragado, vivendo o que Lica sofria e torcendo nos momentos de vitória da personagem. Uma Protagonista formidável. Verossímil, humana. E isso é um mérito e tanto para a escrita do Autor.


“Favela gótica” sabe expandir seu universo. Conta-se a história da cidade, das pessoas e criaturas que lá vivem; dos inúmeros eventos bizarros que constroem aquele cenário. Em poucas páginas, você sente que está passeando em uma cidade real com suas características próprias. E isso acontece tanto pela narrativa principal quanto pelos Registros Akáshicos, parte importante e interessante, contando histórias paralelas que são fundamentais para o nosso entendimento holístico do livro.


O gênero de ficção científica é geralmente utilizado para abordar problemas atuais em uma roupagem futurista. Desigualdade social, identidade de gênero, corrupção estrutural, entre outros problemas são abordados em obras como Blade Runner, Star Trek Discovery, Duna…


Fabio Shiva usa deste gênero para nos apresentar uma história sensível sobre as injustiças. muitas vezes invisíveis na nossa sociedade. Não bastando as importantes temáticas, o autor nos leva numa viagem de autoconhecimento e de espiritualidade.


Recomendo esse livro para todos os jovens adultos e adultos amantes de ficção científica ou da fantasia. Recomendo também aos que querem embarcar em uma viagem dura, intensa mas recompensadora.


Conheça o autor


Fabio Shiva é músico, escritor e produtor cultural. Autor dos livros “Favela Gótica”, “Diário de um Imago” e “O Sincronicídio”, dentre outros. Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento”.


Fábio, pode contar um pouco sobre suas obras?


"Sincronicídio" é um romance policial. Demorei quatro anos escrevendo e saiu em 2013. É a mistura do jogo de xadrez com o oráculo "I Ching", especificamente sobre a estratégia o passeio do cavalo. Esse movimento de fazer o cavalo andar por todas as casas, sem repetir nenhuma, inspirou a organização dos capítulos. Fiz uma grande homenagem ao romance policial, principalmente pelas obras de Lúcia Machado de Almeida com "O caso da borboleta Atíria" e Agatha Christie com "E não sobrou nenhum". É um romance Noir. Deliberadamente como Ulysses, do James Joyce, só que policial. Não tem citações herméticas. É um folhetim, cada trecho termina em suspense para gerar interesse para o capítulo seguinte.


"Diário de um Imago", publicado como e-book na Amazon, conta a história da banda Imago Mortis, banda formada por mim e meu irmão, em 1995. Nós fizemos uma ópera rock chamada vida, sobre os cinco estágios da morte.


Favela Gótica é um livro que revela a monstruosidade cotidiana da cidade, de forma crua. A protagonista, Liana, é uma jovem que está se descobrindo. Está descobrindo sua natureza e vendo todo esse contexto externo. Minha intenção foi confundir o leitor sobre o que seria realidade e o que seria fictício.


Além desses escrevi "A Menininha Azul" que foi selecionada para a plataforma digital do Mapa da Palavra – BA. Os livros de contos "Isso Tudo É Muito Raro / Labirinto Circular" e "Tanto Tempo Dirigindo Sem Ninguém No Retrovisor". Tenho ainda dois projetos para serem lançados, um infantil, voltado para Ioga e outro sobre um mestre fabuloso de capoeira.


Tem algo que apareça com certa frequência em suas obras?


Diabolus in Musica, esse intervalo do trítono era considerado diabólico e durante a Idade Média era pecado tocá-lo! Aprecio esse elemento com devoção. O "I Ching" e toda a filosofia é uma outra característica constante. A paternidade é muito presente de forma indireta e, com certeza, cada vez mais a questão da espiritualidade, no sentido de compreender o sentido da vida. O desejo de investigar o que fazemos aqui. Procuro vibrar


Que autores e obras você percebe que influenciam sua narrativa?


Posso citar Anthony Burgess, com o qual eu me identifico tremendamente. Favela Gótica até faz referências a "Laranja Mecânica" e "Às últimas notícias do mundo". E quando eu estava escrevendo "Sincronicídio" eu li "A Sinfonia napoleão" e me inspirei no processo criativo dele.


Quais pontos sociais que te motivaram a escrever Favela Gótica?


Presenciei dois usuários de crack brigando e essa cena foi catalisadora para descobrir uma grande verdade: estamos cercados de monstruosidades banalizadas. Isso me arrastou num turbilhão emocional. E a maneira de lidar com a dor foi escrevendo uma história dentro desse ambiente de extrema miséria

Porque o gótico? As referências da literatura gótica são drácula, múmia, homem invisível e outros, que transportei para esse cenário fictício. Os zumbis são usuários de uma droga chamada Z. Os lobisomens que se transformam na calada da noite e cometem atrocidades, são os policiais. Os políticos são os vampiros que sugam a energia. A figura do homem invisível, que é uma figura clássica na literatura gótica, eu relacionei às crianças de rua.


Além de escritor, você é editor, né Fábio? Pode nos falar um pouco dessa experiência?


Atualmente trabalho na Verlidelas Editora, que é uma editora de muita luz. Mas já trabalhei em outras como organizador. Um deles foi o "Escritores Perguntam, Escritores Respondem". Pela Cogito, organizei a antologia poética "Doce Poesia Doce", em 2019. Já pela Verlineas, lançamos a antologia "Poesia de Botão" e a "Cura Poética".


Conta um pouco da sua relação com a poesia?


A poesia é tão essencial como as abelhas. Eu acredito que o que nos caracteriza como seres humanos tem a ver com a poesia. A poesia é quase uma seita. Vivemos em um mundo com sobrecarga de emoção e a poesia não admite ser tratada com superficialidade. Ela te agarra pela camisa e te obriga ao mergulho.


Dito isso, além das obras já citadas também participei de formas variadas de outros projetos, como o "Pé de Poesia" (que decorou as árvores de Salvador com poemas em 2016), da Gincana da Poesia (2019-2020, com atividades poéticas em escolas e praças de Salvador e publicação de livro). Mas todos os projetos poéticos foram patrocinados pela Fundação Gregório de Mattos (Prefeitura Municipal de Salvador).


Fábio, pode nos contar um pouco sobre a sua carreira musical?


Iniciei minha carreira com a banda Imago Mortis, onde produzi dois CDs. Também fui coautor e roteirista de ANUNNAKI - Mensageiros do Vento, a primeira ópera rock em desenho animado produzida no Brasil. Fui o fundador do Oficina de Muita Música!, na Casa da Música (SECULT/BA), que oferecia aulas gratuitas variadas e o Gaia Canta Paz. Esse grupo tem a proposta de celebrar e fomentar a fraternidade, a tolerância e o respeito à diversidade por meio do poder transformador e positivo da música. Também sou facilitador da Oficina de Muita Música Criando Asas com 97 Ingredientes de Paz, Amor e Alegria, que acontece semanalmente pela plataforma Meet para Pessoas com Deficiência.


A música em determinado momentos guia as suas cenas?


Em alguns momentos a música me ajuda, sim. Recentemente, eu resolvi criar um sistema motivacional. Determinei que a cada 24 horas eu devo à existência 1000 palavras no mundo. A música me ajuda. Atualmente estou escutando a nona sinfonia, que auxilia até sobre entrar em um estado propício para escrever. As duas artes estão muito conectadas.


A música é principalmente o trabalho em equipe. A literatura também tem uma equipe, mas o resultado final de uma música é inexplicável de uma forma racional. É uma magia. Enquanto que o trabalho literário é profundamente solitário. A semelhança é que como artes elas tem a capacidade de expandir você, como uma pessoa melhor.


Fora desses assuntos já falados, há outros projetos que tenha participado?


Um dos projetos que tenho muito carinho é o P.U.L.A. (Passe Um Livro Adiante). O objetivo dele é circular milhares de livros gratuitamente pelo Brasil. Se curtir se conectar na rádio, semanalmente apresento o quadro "Atmosfera Literária com Fabio Shiva", no programa Atmosfera 102 (Rádio 102,7 FM – Além Paraíba – MG), com Fernando Bamboo, todo sábado das 12h às 14h. Lá misturo um pouco disso tudo que conversamos.


Quer conhecer melhor o autor?


Editora Verlidelas,




Resenha por Mateus Cantele

Edição de imagens por Filipo Brazilliano

Edição e revisão de texto por Elisa Fonseca







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