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Pequeno manual de sobrevivência para editais e seleções literárias


Thiago Ambrósio Lage

Uma das portas de entrada para o mercado editorial são as revistas e antologias com seleção de contos (ou ficções-relâmpago ou noveletas ou novelas, mas chamarei de conto, narrativa curta ou simplesmente texto para simplificar). Este processo, com um certo anonimato e a chance de ser lido por pessoas qualificadas no mercado, até mesmo remunerado, acaba sendo atraente para escritores com diferentes graus de experiência.




Como qualquer seleção, um bom conhecimento do processo e estratégia podem ajudar, senão na aprovação, pelo menos para evitar a desqualificação. Para isto, é interessante seguir algumas etapas.


Caça ao edital


Sim, por mais importantes e brilhantes que sejamos, dificilmente alguém vai ligar para nos avisar ou lembrar de algum edital. Aqui é importante estar atento.


Em quais revistas ou editoras gostaria de publicar? Siga suas redes sociais. Faça uma lista no Twitter. Assine suas newsletters. Não se dá bem com redes sociais? Há sites e blogs que costumam reunir informações de editais abertos. Vale a pena sempre visitá-los, ou ir diretamente às páginas das revistas e editoras. Ou jogue no Google, um escritor que se preze tem que saber usar bem o Google. Há quem libere o calendário de envios com alguma antecedência: salve estas informações.


Grupos de escritores também são um caminho, fique atento aos grupos que participa. Procure estar em grupos onde as pessoas realmente falam de escrita e estejam dispostas a compartilhar este tipo de informação e ajudar umas às outras. E faça amigos. Eles sim são pessoas que vão te mandar uma mensagem do nada com "vi esta seleção, achei a sua cara, segue o link".

Faça uma tabela com as principais informações dos editais: prazo, link, assunto, limite de palavras ou caracteres ou laudas e o que mais você julgar importante. Se tiver todas as informações juntas, as próximas etapas ficam mais fáceis.


Toda seleção é uma via de duas mãos


Quem é selecionado, também seleciona. Ao pesquisar e montar sua tabela, já avalie se realmente quer enviar para aquela seleção. Talvez o assunto seja longe demais de sua zona de conforto. Talvez o limite de palavras seja muito baixo ou alto para o que costuma escrever. Talvez seja uma editora com a qual um amigo teve uma experiência ruim.


Seus textos são seu tempo e seu trabalho. Pense bem em quais casas você quer vê-los. Escolha as batalhas que quer lutar.


Escolheu? Leia de novo o edital com atenção e confira as informações com a sua tabela. Se julgar necessário, acrescente uma coluna com a formatação que pedem. Ordene a tabela de acordo com o prazo de entrega, assim saberá, só de bater o olho, quais editais fecham antes.


Escritor é quem escreve


Sim, para enviar um texto você precisa escrevê-lo.


Se planeje e escreva de acordo com o prazo e respeite os limites de palavras/caracteres/laudas. Calcule prazos parciais de trás para frente. Tenha uma versão para enviar aos betas faltando quinze dias para terminar o prazo. Dê a eles uma semana para lerem e quando devolverem o texto a você, ainda terá uma semana para editar. Sou professor e organizo meu tempo e compromissos em semanas. Use a medida que for melhor para você, dez dias, cinco dias, mas sempre evite dar prazos apertados aos seus betas. Eles estão fazendo um favor ao ler seu texto.


Escrever é reescrever


Hora de editar é hora de ser objetivo. O prazo se aproxima e com sorte você tem as impressões de seus leitores beta para te guiar. Aproveite o que achar que deve, mas não seja cabeça-dura e saiba acatar sugestões. É um equilíbrio sutil. Vale lembrar que em narrativas curtas deve se prezar muito pela precisão da linguagem. Especialmente se for um conto ou ficção-relâmpago: ou ele funciona, ou ele não funciona. Está funcionando? Beleza. Não está funcionando? Bom, agora é hora de passar a bola para frente. Se tem o texto em mãos, não desista sem enviar. Vai com medo mesmo.


Após o texto editado, vale aquela revisão ortográfica marota. Ou preparo de texto. Dependendo de para onde for enviar, de suas condições e do tamanho do texto, compensa pagar um profissional para fazer isso. Aqui um amigo escritor pode entrar em cena e vocês podem combinar de dar aquele tapa na gramática do texto um do outro. Corretores automáticos pegam muita coisa, mas também deixam muita coisa passar.


Pense nisso como a embalagem e apresentação. Imagine que acabou de produzir o brigadeiro perfeito para um concurso… Não gostaria de colocá-lo numa forminha à altura dele? Não gostaria de servi-lo na temperatura adequada? Excessivos erros de concordância e ortografia podem garantir uma rejeição. Cuidado.


A hora H


É isso, hora de mandar e esperar. Nunca, nunca, NUNCA deixe para mandar no último minuto. Se disserem que já fiz isso, nego até a morte.


No último minuto a energia cai, a internet cai. Você descobre que precisa preencher um questionário com 20 questões para enviar o texto. E uma foto. E uma minibiografia. E uma sinopse do texto. Entre na página de envio alguns dias antes, confira logo isso tudo e deixe no esquema.

Melhor: tenha sempre a postos uma boa foto de autor. Uma não, duas, em formato quadrado (mais comum) e retangular. Caso use outra imagem para te representar, seja um ícone, caricatura ou afins, também o tenha sempre disponível. Em resolução alta e baixa, porque plataformas diferentes podem exigir tamanhos diferentes. O mesmo serve para a minibio. Tenha algumas prontas com 100, 200, 300 palavras. Se ela for muito brincalhona, pode não ser adequada, se ela for mais formal, nunca estará errada. Veja como são as bios de outros escritores e use como modelo sem dó.


Confira o texto, formatação, tipo de arquivo e todos os itens do edital antes de enviar (eu já disse para não mandar de última hora?).

Envie.

A sorte está lançada


É isso. Agora espere o resultado. Se no edital deram previsão de resposta, anote esta data para ficar de olho. Se não, veja se há como acompanhar.


Uma dica: atualizar sua página de e-mail a cada 5 minutos, não faz a resposta chegar mais depressa. Inclusive tem revistas que divulgam em redes sociais antes de enviar e-mails. Tem outras que enviam e-mail e pedem sigilo caso seja aprovado, para que só divulguem após a assinatura do contrato. Isso. Contrato. Chique, né? Mas antes disso, quero falar do outro resultado possível, a rejeição.


Tente outra vez


Às vezes a resposta não é bem o que desejamos. Na verdade, na maioria das vezes. Pense que se recebem 200 contos para selecionar 5, são 195 cartas de rejeição. Caso receba uma delas (e-mail na verdade, né?), deve ficar triste, frustrado, mas vai passar. Daqui há duas possibilidades, uma carta com ou sem feedback.


Independente do que venha, importante é saber o que levou à rejeição daquele texto. E digo logo: você nunca vai saber. Fará mil conjecturas, mas lembre sempre que o que foi avaliado foi o texto, e não você. E que a avaliação não era se o texto era bom ou ruim, como se existisse este tipo de qualidade intrínseca. A decisão é: vamos ou não publicar este texto? E nessa decisão muita coisa pesa, inclusive se o seu texto formaria um todo coeso com outros textos selecionados. Se ele agradou particularmente a alguém da banca. Se traz uma visão inovadora para o foco ou gênero da publicação. Se subverte gostoso algum clichê. Se, se, se… Não tem como adivinhar.


Seja pragmático: texto rejeitado é texto liberado para ser enviado a outro lugar. Caso julgue necessário, volte alguns passos e o edite novamente. Aqui revistas que dão feedback podem te ajudar. Coloque "Tente outra vez" de Raul Seixas para tocar e siga em frente!


É favorável atravessar a grande água: sucesso


Bom, o grande risco que correu era ser aprovado, né? Parabéns!!! Leia o e-mail da aprovação de novo ou a postagem nas redes sociais. Caso seja avisado por e-mail, peça permissão antes de comemorar postando em grupos e redes sociais. Agradeça aos amigos. Celebre.


Agora é com você e o corpo editorial. Não seja um autor-estrela e esteja disposto a ser editado. O texto aprovado é uma versão inicial. Ele ainda será trabalhado para que seja publicado em sua melhor forma. Seja humilde. Cumpra prazos. Faça barulho nas redes sociais. Mas volte logo para a sua tabela, que outros editais virão.


Boa sorte!


Conheça o autor


Thiago Ambrósio Lage é um professor, cientista, podcaster, editor e escritor que vive no Tocantins. Já publicou contos nas revistas Maçã do Amor, A Taverna, Eita! e Égua Literária, nas newsletters Faísca e Futuro Infinito, na coletânea Violetas, Unicórnios & Rinocerontes e de forma independente. Thiago é editor na Plutão Livros, co-host do podcast Incêndio na Escrivaninha e escreve na newsletter Mercúrio em Peixes


Redes de Thiago Lage




Edição por Gabriela C. Marra
Revisão e ilustração por Elisa Fonseca
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